PROCEDIMENTOS DE MONTAGEM E IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE IRRIGAÇÃO PARA PAISAGISMO E GRAMADOS
PARTE I
Tendo o privilégio de visitar sistemas de irrigação em vários países cheguei e uma conclusão triste: A maior deficiência que temos na América Latina em está na qualidade de instalação de sistemas de irrigação para paisagismo e gramados.
Chega a ser assustador e o pior, denigre com a imagem do sistema. Obviamente temos atrocidades também em relação a projetos, mas a instalação é o ponto nevrálgico.
Infelizmente existem muito poucos países onde há uma norma e padronização para instalação de sistemas de irrigação para paisagismo.
Deparamos-nos com empresas e profissionais com anos no mercado que não tem a mínima noção de como fazer uma instalação dentro das mínimas direções em qualidade.
O objetivo deste artigo é mostrar alguns padrões de montagem de sistemas de irrigação em áreas de paisagismo a fim de proporcionar o funcionamento/operação adequado do mesmo, garantir sua durabilidade evitando possíveis desgastes oriundos de falhas de montagem, facilitar futuras manutenções, enfim, promover a eficiência do sistema com um todo.
A ideia central é estabelecer passos a serem seguidos na montagem dos sistemas de irrigação, desde a padronização das plantas até a entrega técnica, passando pelas instalações das redes hidráulicas e elétricas.
Muitos destes passos, que iremos descrever, podem parecer óbvios aos olhos de montadores experientes mas podem servir de guia para os iniciantes e ajudar os instaladores para que nenhum detalhe seja esquecido e para que todos os sistemas, seja ele montado pela empresa autora ou executado por outro profissional, tenham os mesmos critérios e as mesmas características básicas.
O Brasil sai na frente em qualidade de instalação.
Os constantes treinamentos em instalação e a Academia Rain Bird, pioneira em treinamentos de irrigação desde o ano 2.000, já formou mais de 1.000 profissionais no mercado.
Porém e aqueles que nunca foram a um treinamento de qualidade? Ou que não admitem aceitar que necessitamos de constante aprimoramento e capacitação?
Aqui fica um registro e apelo para que sigam parâmetros e padrões mínimos de qualidade.
A seguir vamos enumerar algumas recomendações, normas e procedimentos de todas etapas da instalação de um sistema:
Entendam-se como recomendações observações e sugestões pessoais baseadas em nossas experiências ao longo dos últimos 25 anos.
Normas são as regras internacionais específicas para irrigação paisagísticas, adaptações de normas de instalações hidráulicas e elétricas vigentes e utilizadas em instalações civis.
E, procedimentos como sendo um mix de orientações de manuais de fabricantes e os direcionamentos de instalação encontrados na literatura e em cadernos de especificações de projetos internacionais.
1) PROJETOS E PLANTAS:
Um projeto bem elaborado deve constar:
- Legenda dos materiais
- Layout de água ou layout de emissores
- Projeto hidráulico
- Projeto Elétrico
- Localização do conjunto motobomba, controlador e sensores.
- Detalhes de instalação
- Detalhes de montagem
- Notas e observações
O ideal é que sejam apresentados em desenhos separados para facilidade de leitura e interpretação
Vamos agora discorrer da importância de cada um destes itens.
1.1 Legenda de materiais.
Crucial a identificação dos equipamentos em um projeto. Com a tecnologia as legendas, além de símbolos, podemos ter identificação dos produtos através também de cores e tipos de linhas. Com isso temos uma identificação direta e também se pode inserir quantidades e dados técnicos de alguns produtos.
Com isso temos uma clareza do que, exatamente está projetado.
A adoção de símbolos gráficos distintos ajuda muito a leitura de um projeto
Fig. 1. Exemplo de Legenda de um projeto contendo quantitativos e dados técnicos de emissores.
1.2. Layout de água ou Layout dos emissores.
É a parte mais importante de um projeto. Deve ser utilizado antes de iniciar qualquer instalação. O instalador tem condições de verificar os emissores, seus respectivos bocais e a adequação dos mesmos na área. Deve-se fazer uma avaliação da uniformidade e se não há distorções em relação a dimensões da área e locação dos emissores. Com um bom layout de água pode se salvar muitos problemas futuros e fazer correções e ajustes do projeto antes de se iniciar uma instalação.
O layout de água volta a ser utilizado no final da instalação pois é o projeto que possui a definição dos bocais específicos a serem instalados em cada modelo de emissor instalado
Impressionante como ainda se entregam até hoje projetos sem o layout de água.
Fig. 2. Exemplo de ou layout de emissores.
1.3 Projeto Hidráulico
Este é o mais óbvio e lógico. Não existe a mínima condição de executar a instalação de um sistema de irrigação sem um projeto hidráulico. O ideal é ter uma diferenciação clara dos diâmetro (cores marcantes ajudam muito), e das redes secundárias e principal.
Graficamente, aplicar um estilo de linha diferente para a linha principal oferece uma leitura clara de projeto.
Verificar o caminhamento da rede hidráulica e a necessidade de mudar traçado e comunicar ao projetista é salutar a um bom funcionamento do sistema.
Ao contrário de um sistema de irrigação agrícola, o caminhamento da tubulação em um projeto de irrigação de paisagismo pode sofrer muitas mudanças de direção e ter muitas interfaces com detalhes construtivos e outros sistemas também instalados no mesmo ambiente como tubulações de filtragem de uma piscina.
Fig. 3. Exemplo de um projeto hidráulico contendo diâmetros de tubos identificados por cor e linha principal representada por linha tracejada.
1.4 Projeto Elétrico
Muitas vezes negligenciado e não apresentado. Escuto muito: “Meu montador sabe tudo e já faz a instalação direta”. É verdade, seu montador pode saber muito e fazer a instalação sem projeto. Porém, ele tem que parar, pensar, orientar e/ou fazer a instalação.
Quando temos o projeto elétrico temos economia de tempo de instalação e não criamos dependência da equipe de instalação no montador que “canta” o projeto enquanto eles executam.
E, o pior, muitas vezes se envia o projeto sem locação do controlador e dos sensores e deixam para definir o local no momento da instalação. Aí é onde começam possíveis prejuízos em não ter exatamente a quantidade de cabos ou fios que deveria se utilizar.
Passando a projetos maiores não há como executar uma instalação sem projeto elétrico. Acima de 20 setores, efetuar uma instalação de automação sem projeto é muito difícil e sujeita a muitos erros.
Além disso, dependendo da distância, temos mudanças de bitola dos cabos.
Fig. 4. Exemplo de projeto elétrico. Temos diagrama com quais cabos por trecho e com os respectivos setores, a cor da linha também indica o diâmetro do eletro duto onde passam os fios.
1.5 Detalhes de instalação.
Os detalhes de instalação, ou também chamados de detalhes genéricos, são desenhos básicos de como fazer a instalação dos equipamentos de dispositivos do sistema. Muitos são disponibilizados por fabricantes em blocos de CAD ou vetoriais e podem ser customizados.
São muito utilizados em projetos básicos. Ou seja, projetos ainda não executivos. São muito didáticos e fornecem boa orientação a empresas exclusivas de montagem e instalação porém, não são suficientes para uma instalação complexa e projetos de maior porte.
Algumas empresas entregam somente os detalhes básicos em projetos executivos. Isso pode gerar problemas grandes na instalação quando a empresa que está instalando toma outros padrões e montagem do que os idealizados pelo projetista no momento de conceber a lista de materiais. Aí, pode faltar peças e sobrar outras.
Fig. 5. Exemplo de um detalhe de instalação de um aspersor
1.6. Detalhes específicos de montagem.
Estes são os detalhes específicos de instalação onde se orienta como fazer transições de materiais, como fazer instalação de dispositivos dentro de pontos do projeto, uma cada de bombas contendo cortes e detalhes de toda instalação.
Fig. 6. Detalhes específicos de montagem. Exemplos.
1.7. Notas e Observações.
São todos os textos e indicações com instruções específicas que se deve conter no projeto.
Notas são cruciais a orientar o instalador para tomadas de decisão e mudar algum padrão dado a uma dada situação de projeto.
Fig. 7. Exemplos de notas de um projeto.
Daremos continuidade em nossa próxima edição. Bom trabalho a todos.
JOSÉ GIACOIA NETO
Engenheiro Agrícola,
M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV)
MBA em Gestão Comercial (FGV)
Gerente Internacional de Negócios Américas, Rain Bird Intl.