JOSÉ GIACOIA NETO
Engenheiro Agrícola,
M.Sc. em Irrigação e Drenagem (UFV)
MBA em Gestão Comercial (FGV)
Gerente Internacional de Negócios Américas, Rain Bird Intl.
PROCEDIMENTOS DE MONTAGEM E IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS DE IRRIGAÇÃO PARA PAISAGISMO E GRAMADOS
PARTE IV
4 – INSTALAÇÃO E MONTAGEM HIDRÁULICA.
Nesta parte de nossos procedimentos de instalação iremos no ater mais a detalhes técnicos, detalhes práticos, recomendações e procedimentos específicos para instalação de sistemas de irrigação para paisagismo e gramados. Os procedimentos e normas de instalação hidráulica iremos nos abster. A razão para isso é devido ao fato de termos excelente manuais de instalação já fornecidos pelos fabricantes.
Basicamente, hoje, temos dois tipos de tubulação utilizadas em sistemas de irrigação para paisagismo e gramados esportivos: PVC e Polietileno.
Em tubulação de PVC as duas categorias mais utilizadas no Brasil são: Tubos e conexões soldáveis para água fria soldáveis (cor marrom), e tubos de Irrigação para linha fixa soldáveis (tubos azuis).
A utilização e a eleição de qual material a utilizar depende de vários fatores como custo, logística, disponibilidade, cultura e exigências específicas em projetos.
O PVC predial possui uma maior e melhor variedade de conexões que são compatíveis com os tubos azuis da linha agropecuária nos diâmetros de 20, 25, 32 e 40 mm. A partir do diâmetro de 50 mm recomenda-se a utilização das conexões próprias da linha pois os diâmetros externos das duas categorias não são iguais.
Os sistemas de irrigação para áreas verdes utilizam cerca de 60% a mais de conexões (em quantidade e variedade), que um sistema agrícola.
A tubulação de polietileno também possui categorias sendo as mais recomendadas e mais utilizadas: PEMD – Polietileno de média densidade e PEAD – Polietileno de Alta Densidade. A utilização de PEAD em irrigação é uma tendência e já é amplamente utilizada em vários países. Existem várias razões para esta migração, dentre elas:
– Não formam precipitados nas paredes
– São mais fáceis de transportar
– Requerem menos conexões em uma mesma instalação.
– Instalação mais rápidas
– Não necessitam de ancoragem em várias situações que o PVC requer.
Fig. 1. – Transporte de uma bobina de 100 metros de PEAD de diâmetro de 90 mm.
A principal desvantagem são as conexões. Existem poucos fabricantes e a maioria são importadas e possuem valor de aquisição mais elevados. Além disso para grandes diâmetros necessita se de máquinas especificas e profissionais qualificados para operar.
Vamos agora passar algumas recomendações e detalhes para instalação de tubulação em projetos de irrigação para áreas verdes e campos esportivos.
ANCORAGEM
A pressurização das linhas e o movimento da água dentro das tubulações faz com que elas se movimentem, provocando trabalhos e esforços que, às vezes, rompem conexões soldadas ou abrem conexões elásticas. Blocos de ancoragem devem ser previstos para evitar esses problemas.
Fig. 2. Exemplos de Blocos de Ancoragem
As flechas, que são as curvas máximas permitidas em tubos de PVC possuem limites e muitas vezes os montadores abusam desta máxima flecha permitida e depois temos problemas de conexões soltando em obras e tubos se rompendo.
Em relação a soldas meu único comentário e observação e em relação ao uso excessivo de adesivo
A aplicação de adesivo na ponta e bolsa dos tubos a serem unidos deve acontecer apenas no terço final dos mesmos, conforme área marcada em amarelo. Não há a necessidade de aplicar adesivo em toda a profundidade da bolsa ou da ponta. O simples ato de introdução faz com que o adesivo aplicado se desloque por toda a superfície de contato. Adesivo em excesso é tão prejudicial quanto a falta dele!
Fig.3. – Recomendação de onde e área a passar o adesivo em uma instalação com tubo de PVC soldável.
Agora vamos a algumas recomendações gerais
Só existem dois tipos de juntas permitidas na montagem do PVC: juntas soldadas ou juntas elásticas. É prática comum na falta de lubrificante adequado o pessoal utilizar graxas ou óleos minerais aplicados diretamente no anel de borracha. Essas graxas ou óleos agridem quimicamente a borracha e provocam desgaste prematuro e vazamentos. Na falta do produto correto prefira sabão em barra ou detergente de cozinha.
- Nunca aquecer tubos ou conexões na obra
- Utilizar a conexão adequada
- Curvas devem ser feitas combinando conexões apropriadas
- Não fazer bolsas nos tubos e conexões
- Não fazer furos para fixação de partes ou em outra superfície
- Luvas de correr em deflexões
- Não utilizar óleo mineral em JE com anel de borracha
Durante a instalação tomar cuidados quando não estamos concluindo a instalação hidráulica no mesmo dia. Temos sempre que vedar as pontas abertas dos tubos.
Fig.4. Exemplos de ponta de tubo mal fechada e ponta de tubo corretamente fechada.
Toda boca de tubo ou conexão (ponta ou bolsa) deve ser fechada durante a montagem da obra para impedir a entrada de terra, de animais ou qualquer objeto quando a junta não for executada imediatamente.
Isso impede a entrada de sujeira ou animais de pequeno porte na tubulação facilitando muito a limpeza da rede com água além de proteger os equipamentos. Pedras dentro da tubulação podem danificar corpos de válvulas e aspersores.
Travessias sob pisos: instalar tubulação de diâmetro maior, para que o tubo da rede hidráulica fique solto dentro dele. Exemplo se a linha principal é de 50 mm colocar um tubo camisa mínimo de 75 mm de diâmetro.Fig.4. Detalhe de uma travessia sob piso onde já temos a tubulação passada com esperas externas para visualização.
Abaixo não são apenas recomendações, são procedimentos reais necessários!
- Lavar a rede – RITUAL SAGRADO
- Antes de testar aspersores e instalar bocais
- Após reparos
- Registro no final de linha mestra e adução para limpeza em projetos de grande porte. Podemos considerar projetos com linhas mestras maiores que 75 mm de diâmetros.
- Lavar ramais e secundárias sem últimos aspersores
- Escoar água até aparência cristalina e sem detritos
- Nova lavagem após 1 a 2 semanas
- Evitar última válvula no final da tubulação. As últimas válvulas do Sistema sempre estão sujeitas a maior entupimento se montadas no final de uma curva. Prefira sempre a montagem em TÊ.
Fig.5. Instalação de válvulas em fins de rede hidráulica para limpeza
Vários modelos de aspersores sprays vêm de fábrica com uma tampa com cor de realce. Nunca devemos instalar os bocais antes de fazer a limpeza de rede. Quando efetuamos a lavagem de um setor temos que ir instalando os bocais dos aspersores sempre iniciando dos aspersores mais próximos da válvula até o final. Esta é a ordem de instalação sempre não importando se o setor está com sua tubulação em aclive ou declive.Fig.4. A instalação de bocais quando estamos lavando a rede de um setor deve iniciar sempre dos aspersores mais próximos a válvula para o final. Isso se aplica para qualquer situação. Setores em aclive ou declive.
Outra orientação muito importante é a respeito de qual é o ponto que se deve fazer a redução de diâmetro das tubulações.
Em rede de aspersores: A redução deve ser feita sempre depois do aspersor indicado no projeto.Fig.5. Figura contendo uma rede secundária com um aspersor e a redução de diâmetro.
Em caso de rede hidráulica a conexão de interseção ou derivação deve ser sempre do mesmo diâmetro de onde está chegando o fluxo de água. Ou seja em derivações e pontos onde temos “Ts”
Na Figura 6 temos a água fluindo por uma tubulação de 75 mm em direção e uma derivação onde temos reduções para 32 e 50 mm em cada saída.
Exemplo típico onde temos que manter o diâmetro de 75 mm até antes das reduções. Ou seja o “T” tem que ser de 75 mm.Fig.6. Diagrama de tubulação com reduções de tubulação após mudança de caminhamento e derivação.
A figura 7 nos mostra um exemplo de como NÃO deve ser feita a instalação em uma instalação com um “T”.Fig.7. Foto de uma montagem não recomendada, onde a redução ocorre antes de derivação.
Neste caso o tubo deveria chegar num “T” de 75 mm para depois reduzir para 50 mm nas duas saídas e mais uma vez posteriormente reduzir para 25 mm.
Para tubulações de PEAD: Como vimos no PVC, também, o tubo de polietileno deve ser instalado de forma sinuosa dentro das valetas. O motivo é o mesmo: movimento de contração e dilatação por variação de temperatura.Fig.8. Figura ilustrativa de PEAD em uma vala. Sinuosidade permite absorção da dilatação e contração térmica
Finalizando nossa explanação gostaria de salientar a importância de utilizar os acessórios e ferramentas corretas. Efetuando os procedimentos corretos e utilizando ferramentas adequadas temos ganho de produtividade e qualidade de instalação.
Agradeço aos Engenheiros Daniel Azevedo e Fernando Mantoanelli pela amizade e por ter cedido algumas ilustrações.
Próxima etapa: Montagem de sistemas de irrigação – parte V